terça-feira, 7 de julho de 2009

SANGRIA


- NÃÃÃÃÃO – aquele grito ecoava na noite sem fim em meio a choros, engasgos e espasmos de dor.
O sorriso do observante era frio.
Os olhos de Adson estavam marejados de lágrimas de sofrimento intenso. Ele via bem na sua frente, a uns 2 metros de distância, amarrado a uma cadeira igual a sua e ligado a fios de alta tensão seu namorado, Clark.
Clark estava amordaçado, e estava ligado a fios de alta tensão, e com os pés dentro de uma bacia de água. Chorava, mas seus gritos eram abafados.
Adson estava amarrado a uma cadeira também, de frente para Clark. Já estava com dois dedos arrancados, e com pregos em nove dedos dos pés, além de um corte no peito.
O observador saiu das sombras. Dessa vez com um alicate. Abriu a boca de Adson, que tentou se debater inutilmente. O homem iria cortar sua língua.
- NÃÃÃÃÃÃÃÃÃO – novamente gritou Adson desesperadamente. Clark chorava aos berros, que eram abafados pela mordaça.
- Você sabe que pode acabar com essa dor agora – disse o homem calmamente com aquele mesmo sorriso frio. – Basta você apertar esse botão que está embaixo da sua mão direita, que você vai acionar a cadeira elétrica do ser querido namorado. Se você decidir matá-lo, continuará vivo. Senão, posso ficar aqui o resto da noite, me divertindo com você, e te matando aos poucos. Esse jogo é como qualquer outro. Só tem um vencedor. Ou você, ou ele.
Foi quando o alicate começou a cortar a língua de Adson, e a dor se tornou insuportável e cegante, que ele decidiu que não agüentava mais aquilo.
E apertou o botão.

O telefone tocou insistentemente até cair à ligação. “Ótimo”, pensou o detetive Barry. Mas foi quando o telefone voltou a tocar que ele se preocupou de verdade. Só insistiam tanto quando o caso era realmente grave. Ou então não contratariam seus serviços. De detetives os EUA estavam cheios. Mas do calibre dele, sabia, eram poucos.
- Alô – acordando, disse de mau humor.
- Oi, aqui é o tenente Harpay, tenho um caso pra você.
- Por que pra mim? – perguntou Barry de mal humor.
- Por que você é o melhor, sabe disso. Não vou ficar te elogiando. Se não quiser o caso, tudo bem, conseguiremos outro não tão bom, que pelo menos trabalhe por bem menos.
- De quanto estamos falando tenente? – e agora Barry pareceu bem mais interessado.
- Cento e cinqüenta mil dólares para início de conversa.
- Onde te encontro mesmo? – Levantando, Barry já estava colocando o casaco.
- No pub Lug, rua Jackson XV, esquina com a Time Square. Em 20 minutos detetive, ou encontraremos outro que trabalhe por vinte mil dólares.
- Estarei lá.

Em dezoito minutos precisamente, Barry estava entrando no pub Lug, e se dirigindo a mesa onde o tenente se encontrava.
- Bonita camisa – elogiou o tenente.
Barry olhou, e viu que havia abotoado a camisa de forma toda errada, mas não se intimidou.
- Também achei. Por esse motivo comprei.
Na verdade Barry era muito bonito, não apenas sua camisa. Alto, moreno, 30 anos de idade, muito musculoso. No momento com alguma barriguinha, nada muito grande. Corpo elegante. Um homem na sua melhor fase física. Barba por fazer, olheiras.
Não foram necessários maiores elogios. Barry sentou, e o tenente já abriu uma pasta de fotos na frente dele.
- Assassino em série. Ainda não sabemos o perfil correto das vítimas, nem os motivos do assassino, mas sabemos que todos eles eram jovens, entre 16 e 25 anos, homossexuais, e bonitos.
- Sim, continue. Alguns nessas fotos estão vivos.
- Correto. As vítimas são pegas em casais. Um é amarrado em uma cadeira de frente para o outro. Um deles, não sabemos por que motivo, é colocado em uma cadeira elétrica, e o outro tem embaixo da mão um dispositivo para matar o parceiro eletrocutado. Esse com o dispositivo é torturado até seu limite, e pode escolher viver, matando seu parceiro, ou então morrer, muito lentamente, sob tortura. Esses vivos todos foram obrigados a matar seus parceiros.
- Algum deles é o que estava na cadeira elétrica?
- Nenhum. Todos esses que estão vivos nas fotos, são os assassinos de seus parceiros.

“Então quer dizer que todos eles estão internados na mesma clínica psiquiátrica” pensou Barry em voz alta, dirigindo seu carro até a Clínica Anyhome, numa isolada área de vegetação a 30km de Nova Iorque.
Chegando lá, encontrou a grande construção fechada. Entrou pela porta principal, e logo no salão de entrada se deparou com vários doentes mentais alucidando sozinhos, sentados nos cantos, ou deitados no chão, rolando.
- Ah, olá, desculpe o inconveniente! – disse uma adorável enfermeira que chegou com uma bandeja de medicamentos. – Quem é você, e o que gostaria?
- Meu nome é Tom Barry, sou detetive, e estou trabalhando no caso dos garotos homossexuais eletrocutados. Parece que os parceiros deles estão aqui na Anyhome.
- Oh sim. Estão sim. Pobrezinhos. Estão todos isolados em quartos separados no terceiro andar, que é para os que sofreram traumas. Um caso terrível, com certeza.
- Que tipo de pacientes se tratam aqui? – perguntou Barry quando olhou para uma mulher que comia tinta da parede.
- Bem, esse primeiro andar é o de doentes mentais leves. Aqui nesse andar são atendidos pacientes que tem retardo mental, e etc. O segundo andar é para os esquizofrênicos, bipolares, enfim, os que precisam se terapia psicológica mais profunda. O terceiro andar, como eu disse, é para os pacientes que se tratam de traumas que sofreram.
- Bem, eu vi uma luz vinda do porão, em uma janela com grades quando estava entrando aqui...
- Nossa, vejo que você é realmente bom detetive, senhor Barry – disse a enfermeira corando. – É verdade. Fazíamos tratamento de choque em um antigo paciente psicopata no porão.
- Faziam? No passado?
- Sim. Fugiu há pouco tempo. Era um cientista sabe. Fugiu levando a cadeira elétrica do seu tratamento.
- Por acaso a mesma usada...
- Sim – respondeu a enfermeira cortando Barry. – a mesma utilizada no assassinato das vítimas do caso que está investigando detetive.
- Interessante.
- Bem, quer falar com algum deles?
- Sim, por favor. Com o do caso mais recente, poderia me dizer quem é?
- Adson Alighieri. Terceiro andar, quarto 34.

Barry não bateu na porta. Entrou e viu Adson sentado perto da janela lendo um livro.
- Olá – disse Adson se virando para ver quem era. Tinha um olhar calmo, meio vago. Normal para quem havia acabado de matar o namorado.
- Boa tarde senhor Alighieri, sou o detetive Barry e preciso fazer umas perguntas referentes ao que aconteceu com você na terça a noite. Sobre o assassinato do seu namorado e tudo mais.
- Sim... sabia que iriam remexer essa história de novo.
- Me diga o que aconteceu com você.
- Eu estava no supermercado voltando para casa, e quando abri a porta do carro não me lembro mais de nada. Lembro que quando acordei estava de frente para o Clark. E então, um homem, meio velho, começou a apertar meus dedos. Arrancou dois inclusive – e fez sinal mostrando os dedos arrancados. Depois enfiou pregos nos meus pés. Me cortou com um bisturi no peito, bateu em mim de diversar formas com um bastão de ferro. E quando ele colocou o alicate pra cortar a minha língua, não suportei mais. Fiquei com medo de o Clark passar por isso também depois que eu morresse... e apertei o dispositivo que eletrocutava Clark. Matei ele. Não achei que eu fosse ficar vivo, achei que ele fosse me matar de qualquer forma. Mas então acordei aqui na quarta de tarde.
- Interessante – pensou Barry em voz alta. – conhecia o assassino?
- Claro que não. Me disseram depois que provavelmente é um homem que estava internado nessa clínica. Quer saber? Acho que eles tem a ver com isso. Por que nos trariam para a mesma clínica que o assassino fugiu?
- Você pensa que eles tem relação com o assassino? É isso mesmo?
- Por que nos trariam aqui? Ninguém nunca conseguiu fugir dessa clínica antes. E quando esse cara fugiu, além de tudo conseguiu levar uma cadeira elétrica. Acha que um velho como dizem, ia conseguir sozinho?
“Não, não iria” pensou Barry. “Esse garoto é inteligente”. Realmente, como dissera o tenente Harpay, os garotos eram bonitos e jovens. Esse Adson era realmente bonito. Moreno claro, magro, um pouco mais baixo que Barry, cabelo enrolado não muito comprido, e olhos verdes. Um rosto muito, mas muito bonito.
- Você é gay? – Barry se surpreendeu com a pergunta, que obviamente Adson lançou para ele.
- Por que está me perguntando isso? Pareço ser gay?
- Não parece. Mas parece que se eu quiser que você seja, você será.
- Como assim? A que se refere? – Barry levantou da cama, onde estivera sentado durante a entrevista.
- Me refiro a amor, por outro homem – e levantando-se também, Adson colocou a mão direita, a boa dentro da calça de Barry.

O que aquele garoto estava fazendo com ele? Barry teve uma ereção instantânea quando o garoto por cima da roupa íntima tocou seu sexo. Quase desabou de tanto tesão.
- Oh, me desculpe – disse o garoto soltando-o. – Sinceramente desculpe-me! Você é o primeiro homem que entra nesse quarto desde que estou aqui. E estou com saudade de um homem ao meu lado. Me desculpe.
- Não, não se desculpe – disse Barry tentando esconder sua ereção. – Não se preocupe, eu entendo você perfeitamente. Na verdade, não estou nesse caso por acaso. O tenente Harpay sabia. Ele foi o detetive responsável pelo caso na época. Eu fui o único homem que saiu da cadeira elétrica armada por esse assassino. Daymon meu namorado na época, morreu 8 horas depois de ser brutalmente torturado. Eu achei que ele não ia conseguir, achei sinceramente que ia morrer lá. Mas não, ele era policial também. Mas até hoje, fui o único que sobreviveu à cadeira elétrica desse assassino.
- Então, você sobreviveu na mesma condição em que Clark estava – e nesse momento Adson começou a chorar desesperado. – Ele teria mesmo sobrevivido se eu tivesse morrido por ele... – e desabou, mas foi amparado por Barry, que o sentou na cama, e ofereceu um copo de água.
- Não se culpe. Não sei se eu seria tão forte assim. Provavelmente eu teria apertado o botão também.
- Todos os outros já tentaram suicídio diversas vezes. Menos eu. Eu até estou sendo forte sabe. Para tentar suicídio nesse lugar, nem é necessário ser demente.
- Não tratam bem os pacientes aqui? – perguntou Barry
- Não – respondeu Adson baixando ligeiramente a voz. – Não dão os remédios certos para os doentes. Não querem que melhorem.
- Isso que está dizendo é uma acusação grave.
- É grave e verdadeira. Sou estudante de farmácia. Tenho certeza que trazem placebos para os doentes. Estão dando placebos para todos os traumatizados desse caso, dizendo que são remédios para dormir. Não estão nem ajudando eles a dormir, nem ajudam a se recuperar do trauma.
- Por que acha que estão fazendo isso?
- Responda você detetive Barry – e sorriu da forma mais linda que alguém poderia ter sorrido.
- Bem, prometo que irei responder pra você. E vou solucionar esse caso, por você.
- E por que faria isso?
- Responda você senhor Alighieri. – E saiu do quarto sorrindo da mesma forma que Adson sorriu anteriormente. Estava apaixonado.

Assim que fechou a porta, a enfermeira veio em sua direção com uma toalha na mão, e alguns medicamentos encima.
- E então – disse sorrindo – conseguiu fazer ele falar alguma coisa?
- Sim. Me diga, por favor. Você tem acesso aos remédios daqui, não tem?
- Sim, tenho, obviamente. Por quê? – perguntou a enfermeira estreitando os olhos.
- Porque esse moço, Alighieri, acabou de me fazer uma denúncia contra essa instituição. Me disse que aqui, vocês distribuem placebos ao invés de medicamentos corretos para os doentes. Comprimidos que não fazem efeito algum.
- Hahaha – riu-se a enfermeira – Jamais isso seria verdade. Eu não sei a composição dos remédios, apenas dou o que me mandam dar. Mas existem pacientes que saem daqui curados.
- Ou fogem, não é? Fogem, e então vocês colocam o nome deles como se tivessem saído curados. Como esse assassino do porão.
O sorriso da enfermeira sumiu na hora.
- Não fale do que não sabe detetive, para seu próprio bem. Aqui as paredes tem ouvidos, e esse é o assunto da qual somos proibidos de falar.
- Ah é? Interessante. Preciso falar novamente com esse paciente, se você não se importa.
- Agora é impossível, está na hora do remédio, e ele dormirá em seguida.
- Voltarei amanhã então. – Disse Barry convicto.
- Tudo bem, não terá restrições – respondeu a enfermeira com um sorriso doce no rosto.

Barry voltou pra casa, entrou na banheira, e ficou raciocinando sobre tudo o que passou agora nesse dia. Se lembrou do terrível episódio que presenciou quando era mais jovem, a 13 anos atrás. E como Daymon havia sido forte, morrendo para salvá-lo.

No dia seguinte, quando chegou na clínica, a enfermeira o recebeu aos prantos.
- Adson... Oh meu Deus, Adson...
- O que tem Adson? – perguntou Barry desesperado.
- Adson foi encontrado morto essa manhã. Se suicidou durante a noite, com o lençol.
- Não...
- Oh meu Deus, sinto muito por você. O caso será comprometido não é?
- Onde estão os outros?
A enfermeira parou de chorar na hora, e tomou uma feição fria como pedra.
- Estão nos quartos, trancados, e já estão num grau da terapia em que não podem mais relembrar do que aconteceu. Você não pode perturbá-los.
- Para onde Adson foi levado?
- Não sei dizer para onde os enfermeiros os levam depois de mortos. Mas foi levado por uma ambulância.
Barry ia sair correndo para o carro, quando de repente viu um dedo para fora da grade do porão. A luz estava desligada, e quando foi ligada, o dedo sumiu na hora.
- Venha comigo – disse para a enfermeira. A enfermeira, que como sempre carregava a toalha com medicamentos, foi correndo atrás de Barry, que entrou na clínica Anyhome decidido a checar o porão. – Onde fica a porta do porão?
- Por aqui – respondeu a enfermeira e apontou o caminho. Barry foi até a porta e estava trancada. Forçou-há um pouco e quando ia se virar para a enfermeira para perguntar, sentiu um gelo na espinha.
Virou-se para trás com os olhos arregalados. Os medicamentos da enfermeira e sua toalha, estavam no chão. Ela havia lhe aplicado um tranqüilizante, e enquanto ele caia e sua visão embaçava, um homem abria a porta do porão.
Barry acordou de repente. Em um susto, lembrando de tudo o que tinha presenciado anteriormente.
Como não conseguiu se mexer direito, fechou os olhos e começou a chorar. Já sabia onde estava, e o que estava fazendo lá.
Esticou levemente os dedos da mão direita para frente, e quando encontrou o botão, passou a entender tudo o que aconteceria em seguida.
O homem saiu das sombras. Seu sorriso era frio.
Barry abriu os olhos.
- Tenente Harpay?
- Em carne e osso. Ou acha que te escolhi por acaso? – seu sorriso continuava frio como pedra.
Um gemido quebrou o silêncio de ódio que perpassou o rosto de Barry. Adson havia acordado. Como previsto, estava na cadeira de frente para Barry.
- Segundo a enfermeira Emma – e ela saiu das sombras a esquerda de Harpay – você e Adson se tornaram amiguinhos... como posso dizer? Íntimos.
- Não é verdade – disse Barry. – Nada disso é verdade, não machuque ele de novo.
- Câmeras de vídeo instaladas no quarto, mostram que sim, é verdade – e nesse momento Harpay parou de sorrir.
- Por que? Para que faz isso? – perguntou Barry suplicante.
- Para provar que não existe o amor entre homens detetive. Até agora minha equação só falhou com você. Mas deu certo com todos os outros. A biologia explica que vocês são anti-naturais, e sentimentos anti-naturais não existem. Vocês não se amam de verdade, nunca vão se amar. Gays não amam.
- E por que motivo dão placebos para os meninos?
- Porque – começou a enfermeira – nenhum deles está vivo. – e sorriu de forma demente enquanto seus olhos marejavam de lágrimas de alegria.
- Nenhum... – repetiu o detetive – está vivo? O que fizeram com eles? O QUE FIZERAM? – e nesse momento passou a gritar.
- Nada. Todos se suicidaram cruelmente. Ou pensa que matar o próprio namorado é fácil?
- E isso é pouco amor pra você? – perguntou Barry ironicamente.
- AMOR? – gritou Harpay. – AMOR? ISSO É COSTUME. AMOR NÃO É ASSIM. AMOR SÓ PODE EXISTIR ENTRE HOMEM E MULHER.
- Ah, claro. Tinha esquecido que você é heterossexual.
O tenente Harpay nesse momento perdeu totalmente a paciência, e desferiu sobre Barry um soco no rosto.
- Se não sabe – continuou Barry – o mundo está evoluindo para a bissexualidade tenente. Sabia disso? O que sua biologia tem a falar sobre isso?
- Não tem nada, essa é a maior mentira da história. Eu estou aqui para garantir isso. Serei preso quando mostrar a verdade para o mundo, pela crueldade das minhas experiências, mas no cenário científico, serei aclamado como um Deus – seu olhar se tornou vago, sonhador, e também marejou de lágrimas de felicidade. – Serei o Deus que provou que o amor entre homossexuais não existe.
- Então, o cientista que diziam estar aqui neste porão, nunca existiu.
- Nunca – respondeu Harpay. – Criamos uma identidade fantasma, sobre um cientista que foge de uma clínica, para distrair detetives trouxas como você. Ou melhor: no seu caso, para te atrair até aqui.
- Com que finalidade?
- Você foi o sobrevivente. Foi à falha do meu plano. Seu namorado, há 13 anos provou que te amava. Quero mostrar que você não vai fazer o mesmo com esse menino. Vai matá-lo. – e voltando-se para a enfermeira, disse: - Pegue os pregos, o martelo e o alicate.
Adson começou a se retorcer na cadeira, Barry percebia que ele estava tentando se soltar, sem sucesso é claro.
A enfermeira chegou com os aparatos que Harpay havia pedido.
Ele pegou um prego, colocou encima da unha do dedo anelar do pé de Barry, pegou o martelo, e desferiu o golpe.
Barry gritou a plenos pulmões, como nunca havia gritado na vida, as lágrimas escorriam soltas de seus olhos, e soluçava como uma criança.
- Sabe que pode terminar com isso agora – basta apertar esse botão, que você aciona a cadeira elétrica onde o seu querido namorado está. Mate-o, que eu te deixo vivo. Sabe que vai ficar vivo. Já teve provas suficientes de que eu não minto. E esse garoto, é um assassino. Matou o próprio namorado.
- Sei que posso terminar com isso agora, mas você vai precisar de muito mais. Não vou me render a você.
- Ok, você quem sabe – e pegou mais um prego encima da bandeja que a enfermeira trouxe.

Barry acordou assustado. A enfermeira entrou no seu quarto, com uma bandeja cheia de medicamentos.
- Bom dia senhor Barry. Seus remédios. – e sorriu um doce sorriso enquanto saia do quarto.
Barry colocou as mãos na cabeça, e começou a chorar desesperado. Havia apertado o botão.
Olhou para os remédios, levantou da cama, olhou para fora da janela, estava no terceiro andar. Não pensou duas vezes.
Demoraram uns 30 minutos até a polícia chegar ao local.
- Interessante – disse o Tenente Harpay em voz alta. Quem imaginaria que o detetive Tom Barry teria sido pego pelo assassino e terminasse se suicidando?
- Realmente – disse Emma, a enfermeira com um olhar de pesar.
Levaram o corpo para a ambulância.
Na correria, nenhum dos policiais conseguiu notar o maço de dinheiro que Harpay passou a enfermeira. E muito menos o dedo que se debatia de dentro da grade do porão.

FIM...

quinta-feira, 2 de julho de 2009

E DENTRO DOS OLHOS... O VILÃO... EU MESMO




E o medo estampa a face
Sou mocinho e sou vilão
Sou criatura e Criador
Sou o mortal, ou o Deus
A história flui.
Sou um ser de ocultação
Sou um ser de revelação
Sou o outro
Sou você
O que quer que eu seja?

REENCARNAÇÃO




CAPÍTULO I
Sibéria, 300 a.C.
Mesmo depois de todas as batalhas que travaram juntas, mesmo depois de todos os vilões que venceram juntas, e mesmo depois de todas as perseguições que sofreram, continuavam juntas até hoje. Até aquele momento.
Xena já estava ferida, e não conseguia desferir seus golpes. Seu bumerangue circular estava a pelo menos dez metros de distância. Já estava acabada, e não conseguia mais prestar atenção direito. Apenas via pelo canto do olho, que Gabrielle também não estava conseguindo se sair muito bem.
Por mais que Gabrielle tentasse, não conseguia acertar com precisão todos os homens que estavam perseguindo às duas. Até que percebeu que Xena havia desmaiado. Isso tomou sua atenção, e fez com que se distraísse. Levou uma pancada forte do lado da cabeça, e desmaiou da mesma maneira, fazendo com que apenas um véu negro cobrisse sua visão.
No norte da Sibéria, mesmo no verão é muito frio. Foi nesse ambiente que Xena acordou assustada: Em meio a um campo coberto de neve, Xena estava amarrada em uma cruz, no chão, impossibilitada de se movimentar.
Gabrielle também estava exatamente na mesma situação, mas ainda não havia acordado.
Xena gritou seu nome por diversas vezes, até Gabrielle voltar a si.
Nesse tempo, chegaram seus carrascos. Ambas tentaram reagir, mas estavam sem forças e impossibilitadas de movimentos bruscos.
Xena foi a primeira atingida. Seu carrasco mirou um prego bem no centro da palma da mão de Xena, já calejada pelo calor das diversas batalhas que havia travado ao lado de Gabrielle, e desferiu um golpe com uma marreta, fazendo com que a mão de Xena ficasse pregada a cruz. Foi com um grito de horror que Xena olhou para Gabrielle, e compreendeu que esta, teria o mesmo destino.
Os golpes não pararam, até que pés e mãos de ambas estivessem bem fixos na cruz.
Os carrascos agora, começaram a elevar as duas cruzes, e a dor se tornou mais intensa. Xena percebeu que ela e Gabrielle chegaram a seu limite. Iriam morrer, e isso era inevitável nesse momento.
Mas foi como se a vida das duas estivesse passando em câmera lenta. Xena entendeu, e Gabrielle também! Finalmente haviam entendido o mistério de suas vidas! Eram almas gêmeas! Uma havia sido pré-destinada a outra!
Conforme a cruz ia se elevando, Xena virou-se para Gabrielle, e disse com os olhos marejados de lágrimas: EU TE AMO.
Gabrielle virou-se para Xena em seu último movimento, e disse: EU TAMBÉM TE AMO.

Inglaterra, Século XVIII d.C.
Era aniversário de 18 anos de Arthur. Ele era filho de uma das famílias nobres da Inglaterra, e nesse momento, estava em seu castelo escolhendo seu presente de aniversário.
Seu criado estava listando a infinidade de presentes que estavam descritos em uma lista feita pessoalmente pelo pai de Arthur, o Conde de Alffajor.
Seus pensamentos giravam: “Um corcel novo, ou então um papagaio quem sabe?”. Papagaios eram extremamente raros na Inglaterra, e extremamente caros também. Eram importados de Portugal, que por sua vez, importava de uma colônia chamada Brasil, na América do Sul.
“Não”, seu cérebro maquinou rapidamente. “Não, eu quero uma casa na árvore, perto da cachoeira de Daslu”.
_ Quero uma casa na árvore, perto da cachoeira de Daslu – Disse Arthur acabando com a discussão da lista.
_ Sim senhor – Respondeu respeitosamente o criado, e saiu com uma reverência.
Nesse instante, seu pai, o Conde, entrou trajado de Jóquei, arfante, e disse impiedoso para Arthur:
_ Arthur meu filho, hoje você está completando 18 anos. Tornou-se um homem. Vai sair hoje comigo para assistir a execução de um grupo de Bruxos, na praça pública de Londres.
_ Mas eu não quero assistir pessoas morrendo! - e para seu azar completou a frase – Não gosto desse tipo de coisa.
_ Oras, mas você é um homem ou não é? Vai comigo assistir a execução e ponto – finalizou seu pai. – Esteja pronto em uma hora.
Arthur não entendia nada sobre o que era ser bruxo. Para ele, bruxos eram adoradores do demônio e pronto, era isso. Mas não entendia porque matavam os bruxos. Aprendera nos mandamentos de Deus, que as pessoas não podiam matar. Como então executavam os Bruxos? Quem sabe deveriam mesmo morrer. A Santa Igreja jamais se enganava.
Arrumando-se como mandava a etiqueta, o jovem Conde de Alffajor foi despido por um criado, e ficou algum tempo se admirando no espelho. Alto sim, cabelos pretos como ébano, pele branca, corpo extremamente definido pelos esportes que praticava no palácio, como Hipismo e luta livre (onde os criados sempre o deixavam ganhar), e bom... O ponto culminante, o pênis, estava grande. Nesse momento não, pois não estava excitado, mas quando se punha em pé, seu pênis chegava a alcançar em dias de extremo tesão, cerca de 19 centímetros.
Outra coisa que o deixava intrigado, era ver que as malditas manchas que tinha nas mãos ainda não haviam sumido. Encima das costas das duas mãos, ele tinha manchas pretas, do tamanho de um prego grande, desde que nasceu. Quando a luz era fraca, aparentava ser realmente um furo de prego.
O médico da família já havia garantido para Arthur que as manchas jamais sumiriam, mas isso não bastava. Arthur por algum motivo odiava aquelas manchas.
Muitas pessoas têm manchas estranhas pelo corpo, e nenhuma delas se importava tanto com isso. Arthur sim. Era como se em algum momento essas manchas já tivessem prejudicado o garoto.
Uma vez que havia se trocado, foi ao encontro de seu pai, que já o estava esperando na carruagem da família.
Era na verdade a primeira vez que estava saindo do palácio. Ele nunca havia passado dos portões e estava muito entusiasmado, imaginando como seria a vida fora de lá.
Para sua decepção, percebeu que fora dos portões havia apenas pobreza.
Conforme iam passando, via pessoas pedindo esmola, e tentado a dar, seu pai o reprimia.
_ Deus quis assim meu filho – e com frieza continuava – Tem gente pra ser rica, e tem gente pra ser pobre.
Arthur estava desesperado tentando ajudar, mas se manteve em silêncio até o Tribunal da Santa Inquisição de Londres.
Assim que entrou no salão do júri, as manchas de suas mãos curiosamente começaram a doer e formigar. Começou a ficar zonzo, e por alguns instantes perdeu os sentidos.
Acordou com seu pai o estapeando na face.
_ Acorde seu menino marica! Acorde imediatamente!
Assim que recuperou os sentidos, percebeu que as pessoas já estavam esperando para ver o julgamento dos bruxos, e que os acusados já estavam presentes. Eram nove ao todo.
Logo que ficou são novamente, seus olhos esbarraram num jovem acusado, que automaticamente virou-se para Arthur também. O acusado disse em voz bem baixa, fazendo com que Arthur tivesse que fazer leitura labial: EU TE AMO. Arthur voltou-se para ele, e disse: TAMBÉM TE AMO.
Arthur acordou com seu pai o estapeando na face.
_ Acorde seu menino marica! Acorde imediatamente!
Nesse momento, os acusados estavam entrando, e um deles era idêntico ao garoto de seu sonho. Isso era muito estranho. Realmente muito estranho.
Assim que viu o jovem acusado, suas manchas começaram novamente a formigar. “Tem alguma coisa com esse garoto”, pensava ele.
Todos os oito acusados antes dele foram condenados à forca. Ele era o último a ser julgado. Pela frieza com que o Juiz diferia a ordem, Arthur já sabia o destino do garoto, e tomou consciência de que deveria fazer alguma coisa.
_ Pai, esses acusados podem ser comprados como escravos? – perguntou absurdamente Arthur para seu pai.
_ Acredito que não. O que pode ser feito, é você pagar pelos gastos que tiveram com o acusado na prisão, e mantê-lo em casa até o julgamento final.
_ Pai, eu quero comprar um desses acusados – disse Arthur em tom definitivo.
_ Mas já foram julgados, não tem como comprar depois de serem julgados.
_ Aquele ainda não foi julgado. Eu quero comprá-lo.
_ E porque você quer comprar um homem? – disse o pai em tom desafiador
_ Porque quero um amigo – disse Arthur com lágrimas nos olhos. A falta de amigos era a única coisa que comovia Conde.
Como de costume, isso tocou o coração do Conde, e meia hora depois, o garoto acusado de bruxaria estava sentado na parte de trás da carruagem. Não estava visível para Arthur, mas apenas a presença do menino já bastava para que se sentisse bem.

CAPÍTULO II

_ Qual é seu nome? – impôs Arthur ao novo inquilino.
_ Para que quer saber? Para que se importa? – Quis saber o garoto.
_ Na verdade não me importo, apenas quero saber o seu nome.
_ Meu nome é Lancelot.
_ Seu sotaque não é inglês...
_ Não é inglês pois não sou inglês. Minha família é do norte da Sibéria.
_ Ah, interessante... Meus ancestrais também são daquela região.
Lancelot não conseguia parar de perceber a beleza física de Arthur. Arthur era lindo, era perfeito!
Por sua vez, Arthur também não conseguia parar de admirar Lancelot. Lancelot era alto, tinha um rosto másculo e lindo, sobrancelhas grossas, e tinha aquele maravilhoso tórax definido. Sim, era visível por aquela roupa maltrapilha.
Não tardou e os dois passaram a se encarar nos olhos. Naquele momento, Xena via Gabrielle, Arthur via Xena, e Lancelot via Gabrielle. Arthur enxergava apenas Lancelot, que apenas via Arthur.
Como um gancho que os puxava, Arthur foi se aproximando de Lancelot, que não conseguia evitar a respiração arfante.
A mão de Arthur encontrou a mão de Lancelot, e quando a admirou, percebeu que se tratava das mesmas marcas que as mãos dele próprio possuíam.
Tomando a iniciativa, Lancelot agarrou as mãos de Arthur, impossibilitando o jovem conde de se mexer. O corpo de Arthur pedia mais, não conseguia mais segurar a ereção.
Por ter um belo volume, Lancelot não tardou a perceber, e passou a ficar excitado também.
Nesse momento era impossível dizer quem estava arfando mais, se Arthur, ou Lancelot. O que podia afirmar, é que aquele duelo de homens másculos e esbeltos estava apenas no início.
Ainda se encarando nos olhos, em um momento que pareceu uma eternidade, quando ambos já estavam fazendo amor por telepatia, foi que a cabeça de Lancelot se inclinou para frente. Arthur sentia o hálito quente do garoto próximo de sua boca, e fechou os olhos para sentir a intensa realização daquele desejo.
_ Não é inglês pois não sou inglês. Minha família é do norte da Sibéria.
Arthur voltou a si. Havia por um tempo se perdido em pensamentos, admirando o rosto de Lancelot.
_ Como? O que disse? Perdão... – desculpou-se Arthur.
_ Nada, esquece.
_ Deixe-me ver suas mãos – disse Arthur novamente num tom de imposição.
_ Pra que quer ver minhas mãos? – perguntou Lancelot meio atordoado com a imposição de Arthur.
Arthur não respondeu com palavras. Mostrou as costas de suas mãos para Lancelot, que ficou assombrado. Sem tirar os olhos das marcas de Arthur, Lancelot subiu as mangas da camiseta maltrapilha que estava vestindo, e apresentou a Arthur o que ele já sabia que iria encontrar: as marcas de Lancelot, eram semelhantes as suas.
_ O que significa isso? – indagou Lancelot.
_ Ainda não sei. Só sei que sinto que estamos ligados por elas.




CAPÍTULO III

Nesse momento, que estava sendo de descobertas absurdamente interessantes, o pai de Arthur entrou no quarto.
_ Arthur meu filho, leve esse pagão para algum dos criados darem banho.
_ Certo pai.
_ E depois arrume roupas limpas, e peça para que alguma camareira arrume um quarto para ele no sótão. – E saiu novamente imponente.
Obedecendo as ordens impostas por seu pai, Arthur estava saindo para chamar um criado para dar banho em Lancelot.
Num impulso, Xena agarra Gabrielle..
Num impulso que nem ele sabia explicar, Lancelot segurou Arthur pelo braço, e deixou-o a milímetros de seu rosto.
Arthur não conseguia mais controlar seu desejo por Lancelot. Era como se os dois tivessem nascido a vidas um para o outro!
_ Quero que você me dê banho – pediu Lancelot.
Arthur novamente observou aquela feição máscula e perfeita, e não resistiu.. Beijou Lancelot na boca por algum tempo. Sua língua brincava com a de Lancelot, e ele jamais provara um beijo tão bom.
Lancelot segurou com força as nádegas de Arthur, e puxou-o contra seu próprio corpo, contra seu próprio membro, que agora estava mais gigante do que nunca.
Arthur também não conseguia segurar seu desejo, que se refletia em forma de gemidos e uma ereção.
Arthur interrompeu o beijo.
_ Vamos para o banho... Lá vai ser mais interessante... Mais intenso.
_ Certo. – respondeu Lancelot se contendo e arrumando o pênis, de forma que não aparecesse tanto o volume.

Um dos criados atacou Arthur, quando os garotos já estavam alcançando as escadas que levavam para a sala de banhos.
_ Senhor jovem conde! Senhor jovem conde! Por favor. Uma cartomante chamada Léya está na porta, querendo falar urgente com uma tal de Gabrielle. Não conheço nenhuma Gabrielle, mas ela insiste que é alguém que mora aqui.
Como num redemoinho, Arthur se sentiu jogado para outra dimensão. Em segundos, entendeu tudo o que estava acontecendo. Presenciou uma batalha travada contra o Exército da Luz, presenciou cenas de uma prisão onde Xena ficou por algum tempo, e ela própria tivera que entrar, disfarçada de curandeira, para salvar sua amiga.
Agora Arthur percebeu que fora essa Gabrielle em outra vida.
De repente, como num sonho bastante real, Arthur viu duas cruzes sendo elevadas do chão, com duas mulheres presas a elas. Ambas estavam com pregos nas mãos, exatamente onde ele e Lancelot tinham suas próprias marcas. Ele fora Gabrielle em outra vida. Lancelot fora Xena.
_ EU TE AMO – Arthur viu Xena dizer para Gabrielle.
_ TAMBÉM TE AMO – respondeu Gabrielle.
Foi quando então, correndo pela neve do Norte da Sibéria, uma bruxa velha chegou correndo. Olhou fixamente para Xena e disse a profecia:
_ Assim que teus olhos se fecharem, e não mais abrirem, os olhos de Gabrielle se fecharão, e também não mais se abrirão. Ao fechar dos olhos de vocês, A Caixa de Pandora se abrirá, libertando todo o mal do mundo novamente. Com o tempo virá a Santa Inquisição, imposta por uma religião que ainda não existe. Bruxas como eu serão enforcadas, ou queimadas em uma fogueira. É nessa época que você voltará. Encontrará Gabrielle, que vai te reconhecer. Mas não se engane. Nem mesmo outra era deixará vocês juntas.
E tanto os olhos de Xena quanto os olhos de Gabrielle se fecharam.
Arthur estava com o olhar vidrado na parede. Lancelot estava desmaiado ao seu lado. Os criados nada mais entenderam. O dirigente da Carruagem já havia ido até a cidade para chamar o Inquisidor de Londres, para denunciar que uma Bruxa cartomante estava na propriedade.
Os dois, Arthur e Lancelot voltaram a si praticamente ao mesmo tempo. Tinham vivenciado a mesma coisa. Aquilo estava martelando de forma compulsiva: desde outras vidas os dois estavam ligados! Precisavam com urgência falar com a tal cartomante Léya que estava esperando por Gabrielle.

Correram os dois, até alcançar o portal da Mansão de Arthur. Léya estava esperando com um sorriso no rosto. Uma velha, já com seus 60 anos, provavelmente mendiga, pelos trajes que vestia, mas mesmo assim com um sorriso no rosto.
Na estrada, a carrocinha da Inquisição estava alcançando a Mansão.
_ Me diga Bruxa, o que sabe? – disse Arthur apressando a conversa.
A Profecia novamente saltou da Bruxa, mas desta vez, através de uma carta de Tarot, que Léya jogou contra o peito de Arthur, antes da Carrocinha a alcançar e a prender.
_ Bruxa! – Gritou o condutor da Carrocinha. – Será julgada pelo Tribunal da Santa Inquisição da Igreja Católica Apostólica Romana, de Londres. Não diga absolutamente nada, pois tudo o que disseres será usado contra você.
A Bruxa nem reagiu.
Arthur se abaixou, e pegou a carta de Tarot que a velha bruxa havia lançado contra seu peito. A MORTE, era o nome da carta.
_ Vim buscar também o jovem bruxo que está nessa casa – disse o dirigente da Carrocinha.
_ Ele está sob minha responsabilidade, meu pai comprou ele do tribunal – contra argumentou Arhur.
_ Deixa Arthur, deixa eu ir. Não se mete nisso, senão vai acabar mau pro seu lado – disse sensatamente Lancelot.
_ Não, de forma alguma. Você é parte de mim! A vidas nós estamos esperando pra ficar juntos. Não desista agora... Por mim...
Arthur pronunciou essas palavras alto demais. O dirigente da Carrocinha da Inquisição ouviu, e bradou:
_ Herege! Como se atreve a soltar perante um filho de Deus a afirmação de existam outras vidas?
_ Pois existem outras vidas!
_ E pior ainda – continuou o homem – Como se atreve a dizer que um homem nasce para outro homem? Um homem sempre deve nascer para uma mulher! Estão os dois presos por heresia! Por deturpação do sexo, e por terem pactuado com o demônio!
Lancelot segurou Arthur pelo braço, e os dois puseram-se a correr. Atravessaram toda a mansão pelo lado de dentro, e saíram pela porta dos fundos. Entraram na mata da propriedade do Conde de Alffajor, e lá pararam para descansar, perto de um riacho.
_ Arthur, você é louco? – perguntou Lancelot.
_ No momento, louco por você. EU TE AMO.
_ TAMBÉM TE AMO – disse Lancelot.
Os dois se aproximaram, se deram as mãos, e entraram no riacho. A correnteza não estava forte, e a água para os dois, não mais estava gelada. Ambos mergulharam, e voltaram para a superfície totalmente molhados.
Lancelot tirou a camiseta, e deixou que a correnteza fraca do rio a levasse para longe. Arhtur fez o mesmo. Os dois se aproximaram, e se beijaram longamente, abraçaram os corpos molhados um do outro, e continuaram se beijando, cada vez com mais intensidade. Com a intensidade de muitas vidas de espera.
Com a cintura totalmente dentro da água, os dois puseram-se a despir as calças, que a correnteza levou para o fundo.
Agora sem nada que pudesse atrapalhar, Lancelot passou a beijar o pescoço, e o peito de Arthur, que ficou com o pênis ereto no mesmo instante.
Lancelot jamais havia provado outro corpo, com a intensidade de desejo que estava sentindo.
Arthur começou a bolinar e masturbar o pênis de Lancelot por dentro da água, o que fez com que o garoto novamente ficasse com uma ereção.
Lancelot, arfando de desejo, puxou Arthur para fora da água, ajoelhou-se, e entre beijos e lambidas na barriga definida do jovem conde, abocanhou seu pênis.
A intensidade foi tanta, que Arthur não pôde conter um grito de prazer.
Agora Lancelot passou a fazer movimentos de vai e vem com a cabeça, e Arthur segurou-o pelos cabelos, para que não parasse.
A cena era divina. Arthur, com o corpo extremamente definido, um peitoral perfeito, e com cara de desejo, recebendo sexo oral de outro homem, tão lindo e perfeito quanto.
Agora, também Lancelot parou de praticar sexo oral. Voltou a se levantar, e os dois voltaram a se beijar longamente. Eram duas almas gêmeas se beijando.
Arthur agora se abaixou, e passou a fazer sexo oral no corpo molhado de Lancelot. Com uma voracidade que fazia o jovem acusado de bruxaria gemer de prazer. Junto com o sexo oral, também masturbava o garoto, que passou a ficar cada vez mais excitado.
_ Deixa eu penetrar você... – pediu Lancelot.
_ Vamos formar um corpo só...
Arthur se deitou de lado, e Lancelot deitou-se atrás. O corpo de Arthur estava molhado, e a penetração foi fácil.
Arthur gritava de prazer. Lancelot arfava baixinho no ouvido do colega.
Conforme as estocadas estavam mais fortes, os dois entravam num estado diferente de espírito. A intensidade do sexo que estavam fazendo era enorme. Tinha amor dentro dele, e esse era um diferencial.
Não tardou para que Arthur dissesse que iria gozar.
Lancelot então começou a masturbar Arthur, sem parar a penetração.
Arthur começou a arfar, e gozou gritando de prazer.
Isso deu impulso para que Lancelot gozasse também. As estocadas começaram a ficar mais fortes, até que ele tirou o pênis de dentro de Arthur, e gozou gemendo nas costas do garoto.

Ainda se acariciaram por um tempo, se beijaram e se tocaram muito. Fizeram amor mais uma vez enquanto escurecia, e pegaram no sono os dois, nus, e abraçados, do lado do riacho, no meio da mata.
Uma caravana de Inquisidores, juntamente com um dos padres de Londres, e do próprio pai de Arthur, que já estavam procurando por eles, entraram na clareira e se depararam com aquela cena de romantismo. Isso bastou para o pai de Arthur.
Em um silêncio mortal, dois homens amarraram pedras enormes nos pescoços dos garotos, e em cinco, lançaram os dois no riacho, em sua parte mais profunda.
Com o choque da água, ambos acordaram atordoados e se afogando. As pedras puxaram os dois para o fundo do rio.
Suas almas se misturaram as almas das ondinas e sereias. E o último movimento que o pai de Arthur pôde perceber dentro da água, foi de uma mão com uma mancha, se debatendo, antes de finalmente afundar.
E de uma carta de Tarot, A MORTE, boiando, e sendo levada pela correnteza fraca do Rio.................................................................................................................... FIM